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Vista número 5: subida


Apesar de venerado há séculos, durante parcela significativa da história os japoneses se contentaram em admirar o monte Fuji à distância. Até então, os únicos interessados de fato em escalar suas encostas eram os yamabushi 山伏, monges ascetas sectários do budismo esotérico da Shugendo 修験道.

Foi apenas no início do período Edo 江戸時代 (1603-1868) que surgiu a Fujiko 富士講, culto fundado pelo sacerdote xintoísta Hasegawa Kakugyo 長谷川角行 (1541-1646), que fez da escalada da montanha, mais que um ritual, um dever. Isso por conta de o monte ser considerado não somente morada de deuses, mas uma divindade em si, corporificação do espírito mais profundo da natureza. Antes de pisar em seu solo sagrado, portanto, fazia-se necessário cumprir um período de quarentena, que purificaria corpo e mente.

Apesar da obrigatoriedade, somente a jovens audaciosos e viris era possível realizar a jornada — afinal, vencer a distância que separava a capital do monte, para depois escalá-lo, não era mel na chupeta. As mulheres, por sua vez, estavam proibidas de pisar na montanha. Eram por demais mundanas e maculariam sua pureza divina. Para estas — e também aos idosos, enfermos e portadores de necessidades especiais —, alguns Fujizuka 富士塚, versões em miniatura do Fuji, encontravam-se disponíveis em santuários específicos. As mini montanhas mediam cerca de dez metros de altura e eram feitas de rochas e areia vulcânica transportadas com sangue, suor e lágrimas do Fuji para a capital.

À época em que a Fujiko alcançou seu ápice de popularidade, no início do século 19, havia aproximadamente oitocentos Fujizuka em Edo.


Título: Fuji no yamaaki 不二の山明キ

Série: Fugaku hyakkei 富嶽百景 (1834)

Artista: Katsushika Hokusai 葛飾北斎 (1760-1849)

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