Alabarda em mãos, espada na cintura e rosto de quem comeu e não gostou: este é Maebara Isuke Munefusa 前原伊助宗房, um dos célebres 47 ronin 浪人. As legendas no canto superior direito trazem o título da série, o nome do samurai sem mestre e informações relevantes: Munefusa era um kin-bugyo 金奉行, magistrado, com estipêndio anual de dez koku 石. E suicidou-se aos 40 anos. Koku era uma unidade de medida equivalente a 180 litros ou 130 quilos. A produção de arroz era calculada em koku e determinava a magnitude de um feudo 藩, cujo senhor só era considerado daimiô 大名 quando suas terras fornecessem pelo menos 10 mil koku anuais. Via de regra, um koku era a quantidade suficiente para alimentar um indivíduo durante um ano. Parece bastante, mas equivale a 2,8 quilos mensais. Ou 93 gramas por dia.
Jejum intermitente já.
Também conhecida como vendeta Ako 赤穂事件, a vingança dos 47 ronin 四十七士 é um evento verídico ocorrido no século 18 em que um grupo de samurais retribui olho por olho a morte do seu senhor para, em seguida, desentranhar-se em seppuku 切腹 coletivo. Uma das três maiores desforras da história japonesa, ao lado da vingança dos irmãos Soga 曾我兄弟の仇討ち, em retaliação ao trágico assassinato do pai, e da vingança Igagoe 伊賀超の仇討ち, represália de um enlutado irmão mais velho pelo homicídio do caçula.
O evento suscitou emoções conflitantes em relação ao gesto dos ronin. Havia os que concordavam que, ao cumprir o último desejo do senhor, os samurais agiram de forma acertada. E havia quem questionasse a valia de tamanho sentimento sanguinário.
Com o passar das décadas, porém, o episódio se transformou em símbolo máximo de lealdade.
Título: Maebara Isuke Munefusa 前原伊助宗房
Série: Gishi shijushichi zu 義士四十七図 (1896)
Artista: Ogata Gekko 尾形月耕 (1859-1920)
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