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A arte de viver, parte 3

A BOA VIDA É A VIDA COM SERENIDADE INTERIOR

 

O indício mais seguro de uma vida superior é a serenidade. O progresso moral resulta do fato de você se ver livre do tumulto interior. Você deixa de se impacientar com cada coisa que acontece.

Se você busca uma vida superior, abstenha-se de padrões comuns de pensamento tais como: “Se eu não trabalhar com mais empenho, jamais terei uma renda razoável, ninguém me respeitará, não serei ninguém na vida”. Ou: “Se eu não repreender meu empregado, ele se aproveitará da minha boa vontade”.

É preferível morrer de fome, mas livre de desgostos e medos, a viver na abundância atormentado por preocupações, temores, desconfianças e desejos incontroláveis.

Inicie de imediato um programa de autodomínio. Mas comece com moderação, com as pequenas coisas que o incomoda. Seu filho derramou alguma coisa no chão? Você não encontrou a sua carteira? Diga a si mesmo: “Lidar calmamente com este aborrecimento é o preço que pago para ter minha serenidade interior, para livrar-me de perturbações. Não se consegue nada de graça”.

Quando você chamar seu filho, prepare-se para não ser ouvido ou, se for, para constatar que ele não fez o que você queria. Se isso acontecer, ficar agitado não ajuda seu filho em nada. Ele não deveria ter o poder de lhe causar qualquer perturbação.

 

 

NÃO FAÇA CASO DO QUE NÃO É DA SUA CONTA

 

O progresso espiritual exige que ressaltemos o que é essencial e deixemos de lado todas as outras coisas como ocupações banais que não merecem nossa atenção. Além disso, é até bom ser considerado tolo ou ingênuo com relação àquilo que não nos compete. Não se preocupe com a opinião das outras pessoas a seu respeito. Elas estão fascinadas e iludidas pelas aparências. Mantenha-se firme em seu propósito. Só isso poderá fortalecer a sua vontade e dar coerência à sua vida.

Evite tentar conquistar a aprovação e a admiração dos outros. Lembre-se de que você está em busca de um caminho mais elevado. Não deseje que eles o vejam como uma pessoa sofisticada, incomparável ou sábia. Na realidade, desconfie se for visto pelos outros como alguém especial. Fique alerta para não adquirir um falso sentimento de autoimportância.

Manter sua vontade em harmonia com a verdade e preocupar-se com o que está além do seu controle são princípios mutuamente excludentes. Enquanto estiver absorvido por um deles, você irá obrigatoriamente negligenciar o outro.

 

 

ADAPTE SEUS DESEJOS À REALIDADE

 

Seja isso bom ou ruim, a vida e a natureza são governadas por leis que não podemos mudar. Quanto mais cedo aceitarmos esse fato, mais tranquilos seremos. Seria tolice desejar que seus filhos, ou seu marido, ou sua mulher, vivam para sempre. Eles são mortais, assim como você, e a lei da mortalidade está completamente fora de nossas mãos.

Da mesma forma, é tolice desejar que um empregado, um parente ou um amigo não tenha defeitos. Isso é desejar controlar algo que indiscutivelmente foge ao seu controle.

Está dentro da nossa área de controle não sermos desapontados por nossos desejos se lidarmos com eles de acordo com os fatos em vez de nos deixarmos atropelar por eles.

Em última análise, somos controlados por aquilo que concede o que buscamos ou remove o que não queremos. Se é liberdade o que você procura, então não deseje nada e rejeite tudo que depende dos outros. Caso contrário, será sempre um escravo indefeso.

Procure compreender o que é realmente a liberdade e como ela é alcançada. A liberdade não é o direito ou a capacidade de fazer o que se quer. Ela vem da compreensão dos próprios limites e dos limites naturais estabelecidos pela providência divina. Ao aceitar os limites e as inevitabilidades da vida, e ao trabalhar com eles em vez de lutar contra eles, nos tornamos livres Se, por outro lado, sucumbimos a nossos desejos passageiros por coisas que não estão sob nosso controle, a liberdade está perdida.

 

 

EVITE ADOTAR OS PONTOS DE VISTA NEGATIVOS DE OUTRAS PESSOAS

 

Os pontos de vista e os problemas das outras pessoas podem ser contagiosos. Não pratique sabotagem contra si próprio adotando inconscientemente atitudes negativas e improdutivas pelo seu contato com os outros.

Se você encontrar um amigo deprimido, um parente angustiado ou um colega de trabalho que passou por uma repentina mudança de sorte, tenha cuidado para não se sobrecarregar com o aparente infortúnio. Lembre-se de que você deve saber distinguir entre os acontecimentos e a sua interpretação deles. Pense assim: “O que faz essa pessoa sofrer não é o acontecimento em si, pois outra pessoa poderia não ser nem um pouco afetada por essa situação. O que a faz sofrer é a maneira de reagir que ela irrefletidamente adotou”.

Acompanhar as pessoas que estimamos em obstinadas manifestações de sentimentos negativos não é uma demonstração de bondade ou amizade. Prestamos melhor serviço a nós mesmos e aos outros mantendo-nos desapegados e evitando reações melodramáticas.

Ainda assim, quando você estiver conversando com alguém que esteja deprimido, magoado ou frustrado, demonstre-lhe bondade e gentileza e ouça com simpatia seu desabafo. Só não se deixe levar também pela depressão.

 

 

DESEMPENHE BEM O PAPEL QUE LHE FOI DADO

 

Somos como atores em uma peça de teatro. A vontade divina designou um papel para cada um de nós sem nos consultar. Alguns atuarão em peças curtas, outros em longas. Podemos ser chamados a desempenhar o papel de uma pessoa pobre, de um deficiente físico, de uma eminente celebridade, de um líder político ou de um simples cidadão comum.

Apesar de não estar sob o nosso controle determinar o tipo de papel que nos é atribuído, cabe-nos representar a nossa parte da melhor maneira possível e procurar não reclamar dela. Onde quer que você esteja e quaisquer que sejam as circunstâncias, procure apresentar um desempenho impecável.

Se o seu papel é de leitor, leia. Se é de escritor, escreva.

 

Epicteto. A arte de viver: o manual clássico da virtude, felicidade e sabedoria. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.

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