Gestos, não justificativas, parte 4
- c33editora
- há 23 horas
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Gostaria de falar sobre sucesso. O tipo genuíno, não o alardeado em redes sociais, atrelado a carros importados e mansões nababescas. Sucesso advindo de se saber quem é e dos princípios em que se acredita, decorrente da tomada de decisões escorada na realidade e não na ficção. O que não significa jamais ser ludibriado, mas aprender com os erros, gravar na retina o instante em que caem as máscaras e compreender que seu tempo, energia e confiança são valiosos e não devem ser desperdiçados com quem os desmerece.
A verdadeira força não vem da persistência naqueles que o desapontam, mas do desapego que permite a aproximação de quem age conforme o discurso. Vem da coragem para enxergar as coisas como são, não como gostaria que fossem. Há quem se agarre a relacionamentos corrosivos, quem seja permissivo com indivíduos indignos, quem espere pacientemente por mudanças que jamais acontecerão. Chega. Deixe de aceitar que potencial sobrepuja padrões, que lealdade implica desrespeito, que desta vez será diferente apesar de todos os indícios contrários. A vida é por demais maravilhosa para ser desperdiçada com quem não compartilha dos mesmos valores, o tempo é efêmero para ser investido em esperas indefinidas por mudanças superficiais, a confiança é muito importante para ser oferecida a quem não se fez merecedor por meio de ações concretas.
Sucesso não equivale àquilo conquistado, mas permitido. Não à viagem, mas quem nela nos acompanha. O sucesso autêntico é cimentado na seleção de critérios que definem quem compartilhará da sua existência, o que é crível e digno da sua atenção. Se você priorizar discursos a gestos, promessas a padrões, justificativas a transformações, estará condenado ao fracasso. Desejo que alcance a vitória, que prospere e construa algo duradouro, todavia será impossível caso a matéria-prima dos seus alicerces sejam retóricas transitórias, caso se cerque por pessoas satisfeitas em alterar a tática, não a essência. Caso invista energia em quem considere sua confiança algo manipulável, não meritório.
A partir de hoje, atente-se não àquilo que é dito — quem tem boca fala o que bem quiser —, porém ao que é realizado. Fie-se no comportamento exibido quando supostamente se está sozinho, ao trato dedicado àqueles que não oferecem riscos ou vantagens. Você perceberá a repetição de padrões não somente em grande escala, mas nos detalhes, nas promessas descumpridas, nos sutis desrespeitos relevados, nas pequenas mentiras perdoadas. Do micro vislumbra-se o macro e, por consequência, o autêntico caráter. Quando visualizar os padrões, notar os comportamentos e detectar as inconsistências entre teoria e prática, acontecerá algo revolucionário. Acredite em alguém na primeira vez, não na segunda, jamais na décima ou quando desvelar a mentira. A primeira vez é uma dádiva, é a verdade a se revelar nua e crua — aceite-a e faça bom uso da sabedoria adquirida. Porque, sempre que ignorá-la e justificar a má conduta, você não apenas se coloca em posição vulnerável, você se desrespeita.
Seu tempo importa. Confiança, idem. Paz de espírito, também. Qualquer um que não demonstre a teoria na prática é indigno de um lugar na sua vida. Simples assim. Não é algo fácil, contudo. Machuca perceber inconsistências, dói encarar a realidade quando a ilusão proporciona conforto. Conforto, porém, não equivale à vitória, não resguarda a integridade, não assegura o futuro — são prerrogativas da verdade e do trabalho constante.
Aferre-se às ações. Acredite no tangível porque, ao fazê-lo, discernirá o palpável do confortável e começará a construir algo concreto e duradouro. Resultados, não promessas. Desempenho, não potencial. Recorde-se deste instante, desta sensação, desta verdade que irá conduzi-lo a lugares outrora inimagináveis, a construir o então impossível, a tornar-se aquele antes confinado à utopia. Basta confiar naquilo que vê, não que escuta. No que é feito, não dito. Na realidade, mesmo que não corresponda às expectativas.
Olhe suas mãos. Olhe bem. Mãos que construíram, que auxiliaram, que afastaram obstáculos. Mas também mãos que se agarram a conceitos quando deveriam libertá-los. Porque o tempo não espera justificativas ou se detém em promessas. O tempo segue adiante e leva consigo momentos irregressíveis. Cada segundo desperdiçado à espera de alguém corresponder ao discurso é um segundo que poderia ser investido na edificação do seu legado.
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