Catorze polvos, um objetivo: plagiar atividades humanas.
Comecemos pela parte inferior. Dois octópodes se engancham em uma aguerrida luta de sumô 相撲 supervisionada pelo árbitro super atento. Acima, um vendedor de doces, provavelmente mochi 餅, é atazanado por dois polvinhos sem dinheiro, um deles vestindo quimono com padrões de barco de papel. Dá um, tio. Ao lado, um trio joga os tentáculos para cima e executa uma dança tradicional do teatro cabúqui 歌舞伎.
Na margem superior, outro trio, agora de artistas performáticos. O acrobata da trupe planta bananeira na corda bamba enquanto o colega, cheio de braços e talento, cuida de animar a apresentação com atabaque, shamisen 三味線 e instrumento de sopro. Multi-instrumentista.
Por fim, o famoso duelo ocorrido na ponte Gojo Ohashi 五条大橋, em Quioto, entre Saito Musashibo Benkei 西塔武蔵坊弁慶 (1155-1189) e Minamoto Yoshitsune 源義経 (1159-1189). Antes de cada batalha, Yoshitsune pedia proteção à deusa da piedade Kannon 観音, cuja imagem residia no templo Kiyomizu 清水寺, na antiga capital. Mas eis que, certa vez, o monge-bandoleiro Benkei se postou em um dos acessos da ponte Gojo para desarmar em combate todos que portassem espada. Sua meta, alcançar mil duelos vitoriosos.
Estava em novecentos e noventa e nove.
Quis o destino que o confronto derradeiro se desse contra Yoshitsune. O arruaceiro impediu a passagem do samurai, que o empurrou. Benkei investiu com a catana, porém o Minamoto contragolpeou e o desarmou, ao que o adversário empunhou uma alabarda. No entanto, treinado pela fina-flor dos tengus 天狗, Yoshitsune projetou-se a uma altura impressionante e se esquivou, permanecendo sempre na distância exata para não ser atingido.
Benkei acabou rendido e prostrou-se diante do samurai implorando perdão, disposto a tornar-se seu vassalo para ao seu lado lutar contra as forças do clã Taira 平家.
Título: Ryuko tako no asobi 流行蛸のあそび (c. 1840-42)
Artista: Utagawa Kuniyoshi 歌川国芳 (1798-1861)
postagem em parceria com @pictures_of_the_floating_world