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Presságio do cuco


Um moço com o azul e branco da Portela coça o sovaco enquanto olha reflexivo para um cuco-pequeno hohotogisu 子規, arauto do verão e supostamente capaz de invocar espíritos, o que lhe valeu o posto de garoto-propaganda da efemeridade da vida.

O jovem é ninguém menos que Soga Goro Tokimune 曾我五郎時致 (1174-1193). Às vésperas da batalha que selará seu destino, o samurai de 20 anos suspira e pondera: de fato, o mundo é um moinho.

Imortalizada no romance Soga Monogatari 曽我物語, a narrativa é o pão-com-mortadela da literatura medieval japonesa: vingança e devoção aos pais. Dois espadachins, o mencionado Tokimune e seu irmão dois anos mais velho, Soga Juro Sukenari 曽我十郎祐成 (1172-1193), buscam saciar a sede de retaliação pela morte do pai, assassinado dezessete anos antes, quando a dupla ainda brincava de adoleta. Nesse intervalo, os búzios favoreceram o algoz, Kudo Suketsune 工藤祐経 (1147-1193), que ascende na hierarquia militar até ser alçado à invejável posição de daimiô 大名 e conselheiro pessoal do xógum Minamoto Yoritomo 源頼朝(1147-1199). A desforra, portanto, não seria fácil.

Em uma área de caça delimitada aos pés do monte Fuji 富士山, os irmãos acuam Suketsune em uma tenda e finalmente o despacham para o lado de lá. Em meio ao alvoroço desencadeado, Juro Sukenari termina morto e Goro Tokimune, capturado pelo renomado lutador de sumô e segurança freelancer Goromaru.

Por decreto do xógum Yoritomo, o irmão caçula dos Soga é executado.


Título: Ugo no sangetsu Tokimune 雨後の山月時致 (1885)

Série: Tsuki hyakushi 月百姿 (1885-1892)

Artista: Tsukioka Yoshitoshi 月岡芳年 (1839-1892)


postagem em parceria com @pictures_of_the_floating_world

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