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Candiru


No leito do rio, uma dupla de criaturas das águas kappa 河童 estupra uma apanhadora de pérolas ama 海女. Os cabelos da jovem se encontram à mercê da correnteza, e pequeninos peixes se aproximam curiosos da zona do agrião. Sentada na rocha, uma colega testemunha a cena, não indignada ou receosa, mas com semblante ao mesmo tempo tímido e safado, os cabelos encharcados grudados nos ombros e costas. A saída de praia não é só para inglês, mas para quem quiser ver, afinal sua genitália se encontra toda exposta.

Kappa são bichos escamosos e melequentos, de coloração anfíbia, com membranas natatórias nas mãos e pés. Possuem o tamanho de uma criança, fragilidade compensada pela imensa força, e um chanfro côncavo em formato de pires no topo da cabeça, que necessita estar repleto de água, caso contrário os kappa perdem seus superpoderes. São entidades ardilosas, às vezes mortíferas, notórias por arrastar consigo vacas e cavalos para as profundezas molhadas, além de afogar meninos e meninas para a extração de uma suposta joia alojada fundo no ânus, o que associou os kappa com o despertar de desejos homossexuais.

Registros sobre as atividades das ama, por sua vez, retrocedem ao período Heian 平安時代 (794-1185). No Japão, as mulheres eram consideradas mergulhadoras superiores por conta da suposta capacidade pulmonar expandida e da distribuição de gordura corporal característica do gênero. Começava-se cedo na profissão, aos 12 ou 13 anos, e cabia às veteranas ensinar os atalhos às novatas — a clássica relação senpai-kohai 先輩後輩. As ama eram famosas por permanecer atuantes mesmo septuagenárias, saúde adquirida em décadas de disciplina e intimidade com Oxum e Iemanjá. Conhecidas pelos modos rudes, em conformidade com a aspereza de suas peles, as mergulhadoras contrastavam com as yujo 遊女 e oiran 花魁, garotas de programa de luxo, em geral as musas do gênero bijinga 美人画do ukiyo-e 浮世絵, consagrado às grandes beldades de outrora e de agora.


Imagem: Utamakura número 1 歌まくら (c. 1788)

Artista: Kitagawa Utamaro 喜多川歌麿 (1753-1806)


postagem em parceria com @pictures_of_the_floating_world

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