A prostituta de luxo recém saiu do banho e, enquanto seca o ouvido com a manga do quimono, a serviçal lhe oferece uma xícara de chá. Alguém chama. Ambas se voltam na direção da voz.
Na hora da serpente, que antecede o almoço, as ruas dos distritos dos prazeres fervilhariam de mendigos e ambulantes. Um vendedor alardearia seus cosméticos, pentes, conjuntos de grampos e itens para toalete. Uma aprendiz adolescente solicitaria ao joalheiro que lhe confeccionasse um anel de prata adornado com o seu timbre e o do amado. O artífice confirmaria o pedido em voz alta, ao que a jovem, envergonhada, solicitaria ao homem que abaixasse o tom.
A cabeleireira ajeitaria o penteado de uma cortesã concentrada na leitura de uma antologia de poesia clássica chinesa. Uma serviçal apareceria e pediria a ela que escrevesse algo em um leque, a ser entregue a um cliente. A caligrafia das altas cortesãs era bastante requisitada.
As garotas de programa conversariam sobre remédios herbáceos para gonorreia. Uma pálida prostituta pediria à criada que lhe trouxesse da farmácia algodão e hemostático, evidentemente em preparação para mutilar um dedo e assim demonstrar fidelidade a um rico cliente, de quem almeja tomar emprestada uma grande quantia de dinheiro. Tatuar o nome do amante ou amputar um dedo era a forma mais comum para as prostitutas provarem seu amor.
Título: A hora da serpente / 巳ノ刻, mi no koku
Série: 12 Horas nos Bordéis / 青楼十二時続, Seiro junitoki tsuzuki (c. 1794)
Kitagawa Utamaro 喜多川歌麿 (c. 1753-1806)
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