Vista número 6: vilarejo em noite de luar

Observamos Shi Jin 史進, um dos cento e oito adorados marginais de Shui hu zhuan, romance chinês escrito no século 13 e traduzido para o japonês no início do século 19 sob o nome Suikoden 水滸伝. O sujeito era filho de um rico latifundiário de Shandong, província situada na China oriental, e redirecionou o tempo que dedicaria à lavoura para as artes marciais. Nepo baby.

Shi Jin relaxa num banco de palha debaixo do salgueiro e se refresca com o auxílio de um leque — afinal, apesar do cenário noturno, tratava-se do sexto mês do calendário lunar, ápice do verão. De repente, percebe três delinquentes em vias de atacar seu vilarejo e consegue subjugá-los, libertando-os após escutar as histórias de injustiça e opressão que os forçaram a ingressar no mundo do crime. Não apenas, o jovem decide fazer parte da quadrilha, cujo quartel-general se localizava em uma região pantanosa cercada por lagos. A oposição dos foras da lei aos desprezíveis proprietários de terras e oficiais corruptos, além de seus princípios elevados e façanhas honrosas, transformaram-nos em heróis para a população local.

Assim como os colegas, Shi Jin era maciçamente tatuado — no caso, um bodysuit que lhe rendeu o apelido Kumonryu Shi Jin 九紋竜史進, Shi Jin dos Nove Dragões. Tatuagens simbolizavam resistência e coragem, sendo feitas pelas classes baixas, de trabalhadores a bombeiros e prostitutas. Acredita-se que se originara entre pescadores, cujas peles decoradas afugentariam tubarões e monstros marinhos.

Título: Shikason tsukiyo Kumonryu 史家村月夜 九紋竜

Série: Tsuki hyakushi 月百姿 (1885-1892)

Artista: Tsukioka Yoshitoshi 月岡芳年 (1839-1892)