
Xilogravura comemorativa dos setenta e um anos de vida de Nishimuraya Yohachi 西村屋与八, um dos gigantes do mercado editorial japonês do final do século 18, aqui vestindo sobre o quimono um casaco formal de inverno haori 羽織, ambos decorados com a repetição do ideograma kotobuki 寿, longevidade, que ainda compõe o nome da loja de Nishimuraya, Eijudo 永寿堂. Um biombo protege o homem, que está sentado na cama acolchoada e tem diante de si um suporte para livros laqueado, o preto retinto contrastado pela duplicação em dourado do logotipo da editora, mitsu tomoe 三つ巴, que significa a tríplice divisão entre o homem, o céu e a terra. O astigmatismo decorrente da idade obriga Nishimuraya a apertar os olhos para ler o conteúdo da obra apoiada no suporte. Nas mãos, traz um leque dobrável.
Os versos inscritos aludem ao ano-novo:
一富士に
二鷹
色よし
三茄子
ichi fuji ni
ni taka
iro yoshi
san nasubi
primeiro, o fuji
depois, o falcão
e, super coloridas,
as berinjelas em terceiro
O poema reverbera a pintura no biombo, que ostenta os três elementos componentes do hatsuyume 初夢, o primeiro sonho do ano, a mega da virada, que garantia àquele que sonhasse com o monte Fuji, falcões e berinjelas trezentos e sessenta e cinco dias de praia e maconha em Fernando de Noronha.
No período Edo 江戸時代 (1603-1868), os falcões eram considerados emblemas da classe guerreira dos bushi 武士, dada sua visão de raio laser, sua imensa coragem e natureza predatória. Ademais, um ideograma homófono para taka 鷹, falcão, era taka 高, elevado. A berinjela, por sua vez, era bastante associada à fertilidade e sua leitura, nasu 茄子, é similar ao verbo nasu 成す, obter sucesso. Por fim, o monte Fuji 富士, caso grafado com os kanji 不死, de pronúncia idêntica, incorporava o sentido de imortalidade.
Imagem: Nanaju-ichi wo Eijudo konno 七十一翁永寿堂昆野 (c. 1799)
Artista: Utagawa Toyokuni 歌川豐國 (1769-1825)
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