O lado obscuro do amor, parte 3
- c33editora
- 14 de mai.
- 3 min de leitura

A maior história de amor que jamais viverá não acontecerá com a suposta cara-metade, mas com seus sonhos e objetivos — que, diferentemente do parceiro, não acordarão determinado dia com o sentimento de não o amarem mais. Cada momento de solidão o encorpa para algo mais significativo. Suas noites de sexta-feira não serão desperdiçadas a arrastar para a direita, serão consagradas aos seus desígnios. Pare de procurar alguém para caminhar de mãos dadas, caminhe sozinho com tamanho propósito que os demais se inspirarão apenas ao olhá-lo avançar altivo. Conceba uma vida tão plena que namorar se torne uma escolha, não uma carência.
Amor não é a resposta, é a pergunta: o quanto está disposto a ceder? Sua missão, caso a aceite, é tornar-se tão completo que o relacionamento será tijolo, não fundação. Erga algo tão expressivo que a solidão se transforme em escolha, não em circunstância lastimável. Em uma sociedade obcecada com finais felizes, tenha coragem para escrever sua própria história, em que solitude não é sinônimo de escuridão, e sim farol que ilumina o caminho para seu verdadeiro eu.
O lado obscuro do amor é perder-se em prol do outro. Escolha-se. Encontrar alguém é apenas um crédito bem-vindo no jogo da vida. Caso apareça, que seja para acrescentar à sua existência já completa, que expanda sua visão de mundo em vez de apequená-la, que encorpe sua energia em lugar de drená-la. Amor proveniente não da necessidade, mas da força. É o único tipo aceitável. Até lá, mantenha-se constante. Construa, cresça, brilhe. A pessoa certa não necessita ser perseguida, ela é atraída pela sua luz, uma luz resplandecente em todas as direções e não mero holofote individual.
Sua tarefa, portanto, não é encontrar amor externo, mas interno. É focar em suas metas sem ponderar mensagens lidas e não respondidas. É investir no crescimento pessoal sem atinar para curtidas em stories. É se comprometer com sua visão e perceber que a solidão é um superpoder, não uma sentença de morte. O lado obscuro do amor faz achar que depende-se do outro para ser completo. Você já é completo. Possui um rol de talentos ansiosos para serem desenvolvidos, ideias para serem concretizadas, sonhos abandonados em prol de picuinhas acalentadas.
Vire a página. Olhe em torno: memórias de relacionamentos antigos, objetos adquiridos para impressionar alguém. Isso se encerra hoje. Seu espaço deve refletir você. Caso revisite ex-namorados em redes sociais, encontra-se empacado. Cada minuto desaproveitado em perfis é um minuto consumido da sua biografia. A sociedade inverte princípios, incita-o a buscar quem o aceite exatamente como é, não a tornar-se orgulhoso de si. O parceiro não é um supervisor, seu desenvolvimento pessoal não é responsabilidade dele.
Perceba como o romantismo é comercializado a torto e a direito em músicas e comerciais que alardeiam ideais de alma gêmea, quando aquele por quem tanto anseia é você. O custo do amor acaba não contabilizado — não digo jantares e presentes, mas oportunidades descartadas quando se opta pela mesmice a dois, aventuras natimortas que não empolgaram o outro, crescimento sufocado por receio de estremecer a relação.
Seu potencial é enorme para ser espremido na zona de conforto alheia, seu propósito importantíssimo para ser negociado, seu tempo precioso para ser investido em convencer o outro do seu valor.
Hoje, sua tarefa será listar os sonhos engavetados em prol do relacionamento, os objetivos encolhidos em adequação, as partes silenciadas em favor de uma suposta harmonia. É melhor ter amado e perdido do que jamais ter amado — mesmo? E que tal amar-se a tal ponto que a perda é impossível, erigir algo tão significativo que status de relacionamentos em redes sociais se torne algo pífio?
Veja seu celular: um recado. Talvez uma nova chance de cometer os mesmos erros. Seu telefone deveria se iluminar não com notificações de postagens, mas com lembretes dos seus propósitos, notas referentes a sonhos, alarmes para prioridades. Pare de tomar de empréstimo a energia de quem é mero turista em sua vida, de amealhar felicidade de namoros medianos e arrendar sua paz interior para quem não compartilha de princípios similares.
Tome para si. O vazio sentido não requer o outro, requer propósito. Não demanda gente, mas objetivos. A solidão que o visita de madrugada não exige terceiros, mas a versão de si destruída ao tentar se adaptar.
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